O site da revista Veja
dessa semana publica uma matéria sobre Medicina e Odontologia, que se
uniram para estudar o que existe na relação saúde da boca e o restante
do organismo. E vice-versa. Para isso, ouviu o consultor da ABO, Rodrigo
Bueno de Moraes, e o professor titular em Periodontia da USP, Giuseppe
Romito. Veja matéria na íntegra publicada no site Veja.com
Placas dentárias podem aumentar em até 80% os riscos de uma morte prematura causada por câncer. O alerta, publicado recentemente no periódico British Medical Journal, é apenas o mais recente de uma série de estudos que vêm movimentando a odontologia e a medicina. Recentemente, o avanço na tecnologia de detecção de doenças e um movimento realizado pela classe odontológica "para trazer a boca de volta ao corpo” — ou seja, estudar sua relação com o resto do organismo — alavancaram o número de estudos que relacionam as duas áreas. Como resultado, foi desvendada uma série de relações entre infecções que ocorrem na boca e problemas cardiovasculares, diabetes, obesidade, câncer, osteoporose, parto prematuro e nascimento de bebês abaixo do peso.
Placas dentárias podem aumentar em até 80% os riscos de uma morte prematura causada por câncer. O alerta, publicado recentemente no periódico British Medical Journal, é apenas o mais recente de uma série de estudos que vêm movimentando a odontologia e a medicina. Recentemente, o avanço na tecnologia de detecção de doenças e um movimento realizado pela classe odontológica "para trazer a boca de volta ao corpo” — ou seja, estudar sua relação com o resto do organismo — alavancaram o número de estudos que relacionam as duas áreas. Como resultado, foi desvendada uma série de relações entre infecções que ocorrem na boca e problemas cardiovasculares, diabetes, obesidade, câncer, osteoporose, parto prematuro e nascimento de bebês abaixo do peso.
A ideia de
relacionar a saúde bucal com problemas em outras áreas do corpo surgiu
no início do século XX. Nessa época, acreditava-se que infecções com
origem na boca poderiam ser a causa direta de outras doenças – nascia aí
a tese da infecção focal. "Foi uma catástrofe, várias pessoas tiveram os
dentes arrancados desnecessariamente. A odontologia acabou sendo
desconsiderada pela medicina", diz Giuseppe Romito, professor titular de
periodontia da Universidade de São Paulo. Acreditava-se, sem qualquer
base científica, que arrancar os dentes com problemas evitaria que a
infecção fosse disseminada.
Segundo o especialista, a meta agora é fazer com que a boca volte a ser entendida como uma parte integrante do corpo. Em outras palavras, os dentistas vêm tentando provar cientificamente que o que acontece dentro da boca tem uma relação direta com o funcionamento de todo o organismo.
Segundo o especialista, a meta agora é fazer com que a boca volte a ser entendida como uma parte integrante do corpo. Em outras palavras, os dentistas vêm tentando provar cientificamente que o que acontece dentro da boca tem uma relação direta com o funcionamento de todo o organismo.
Prova
científica — Foi apenas na década de 1970, quando o dentista
americano Steven Offenbacher realizou pela primeira vez um teste clínico
que ligava processos inflamatórios na boca com a ocorrência de parto
prematuro, que a relação boca e corpo começou a ser levada a sério
novamente. Teria início, então, uma caçada científica por quaisquer
relações com as demais inflamações do corpo. Dezenas de estudos
conseguiram confirmar os achados de Offenbacher e encontraram ainda
conexões dos males bucais com diabetes, doenças cardiovasculares,
pulmonares, de próstata, osteoporose e câncer.
Quando começou suas investigações, Offenbacher pôde estabelecer apenas uma relação epidemiológica entre as inflamações na gengiva causadas por bactérias e parto prematuro. Hoje, no entanto, uma série de estudos conseguiu provar com mais precisão a relação entre essas duas condições. Em uma pesquisa publicada em 2007 no Journal of Periodontology, o especialista mostrou que quanto mais cedo se der a exposição às bactérias, maiores serão os riscos do parto prematuro. Nos dados coletados por Offenbacher, descobriu-se que a exposição com 32 semanas de gestação aumentava os riscos de parto prematuro 3,7 vezes. Com 35 semanas, o risco aumentava duas vezes.
Quando começou suas investigações, Offenbacher pôde estabelecer apenas uma relação epidemiológica entre as inflamações na gengiva causadas por bactérias e parto prematuro. Hoje, no entanto, uma série de estudos conseguiu provar com mais precisão a relação entre essas duas condições. Em uma pesquisa publicada em 2007 no Journal of Periodontology, o especialista mostrou que quanto mais cedo se der a exposição às bactérias, maiores serão os riscos do parto prematuro. Nos dados coletados por Offenbacher, descobriu-se que a exposição com 32 semanas de gestação aumentava os riscos de parto prematuro 3,7 vezes. Com 35 semanas, o risco aumentava duas vezes.
Efeito cascata
— As infecções bucais podem causar prejuízos aos demais órgãos por
dois processos inflamatórios diferentes. No primeiro e mais simples, as
bactérias alojadas na gengiva se deslocam pelo organismo e se instalam
em determinados órgãos, prejudicando seu funcionamento. Nesse caso está
o mais conhecido dos problemas, e o único que é, de fato, causado
diretamente pela inflamação na boca: a endocardite bacteriana. "A
bactéria da gengiva viaja pela corrente sanguínea até as veias
coronárias (que levam sangue ao coração) e se alojam ali, infeccionando
a membrana da válvula", diz Rodrigo Bueno de Moraes, periodontista e
consultor da Associação Brasileira de Odontologia (ABO). Em abril deste
ano, a Academia Americana do Coração (AHA, sigla em inglês) publicou um
artigo no periódico médico Circulationconfirmando que existe, de fato,
uma associação entre a doença periodontal e a arteriosclerose
(endurecimento das artérias). Apesar da relação, não é necessário que
pessoas com boa saúde procurem um cardiologista a cada inflamação na
gengiva.
Há uma segunda
maneira pela qual as doenças bacterianas que ocorrem na boca repercutem
em outras partes do corpo. Enquanto luta para exterminar as bactérias
invasoras que tiveram origem na boca, o sistema imunológico libera
diversas substâncias no organismo. Isso causa um desequilíbrio químico,
elevando os níveis de substâncias que interferem no funcionamento de
órgãos, do metabolismo e de sistemas inteiros do corpo. É o caso, por
exemplo, do diabetes. O processo inflamatório na gengiva não causa a
doença, mas ajuda a desequilibrar o balanço químico do organismo,
dificultando, assim, o controle dos níveis de glicose. Mas a relação
entre as condições é uma via de mão dupla. O diabetes, por si só, pode
piorar quadros de inflamação gengival.
Em pesquisa
publicada no periódico The Journal of the American Dental Association (JADA),
o pesquisador IB Lamster descobriu que conforme o índice glicêmico de
pacientes com diabetes perdia o controle, os efeitos colaterais da
doença nas inflamações da gengiva ficavam mais sérias. Esse mesmo
desequilíbrio químico pode estar relacionado ainda com problemas como
câncer, parto prematuro e nascimento de bebês abaixo do peso, artrite
reumatoide e obesidade. Prestar atenção ao que acontece na boca, está
provado, pode ser não só uma boa maneira de evitar doenças, mas também
detectá-las.
Fuja das bactérias
Dados epidemiológicos estimam que 90% da população mundial têm gengivite e que 30% têm doença periodontal. Para manter a boca livre das bactérias é preciso escovar os dentes e usar o fio dental, no mínimo, duas vezes por dia. “Não adianta repetir o procedimento dez vezes, se você não escovar ou limpar corretamente”, diz Romito. É recomendado ainda que se faça visitas semestrais ao dentista, com realização de exames de sonda (análise da gengiva) e de raio-X (análise dos ossos do maxilar). O procedimento é protocolar e deve ser pedido em toda consulta de rotina. Alguns materiais, porém, oferecem maior proteção, como, por exemplo, a escova interdental. Ela é mais eficaz que o fio dental para limpeza entre os dentes. Existe também a escova de tufo único, que costuma ser indicada para pacientes que têm doenças periodontais, como um complemento à escova comum.
Fuja das bactérias
Dados epidemiológicos estimam que 90% da população mundial têm gengivite e que 30% têm doença periodontal. Para manter a boca livre das bactérias é preciso escovar os dentes e usar o fio dental, no mínimo, duas vezes por dia. “Não adianta repetir o procedimento dez vezes, se você não escovar ou limpar corretamente”, diz Romito. É recomendado ainda que se faça visitas semestrais ao dentista, com realização de exames de sonda (análise da gengiva) e de raio-X (análise dos ossos do maxilar). O procedimento é protocolar e deve ser pedido em toda consulta de rotina. Alguns materiais, porém, oferecem maior proteção, como, por exemplo, a escova interdental. Ela é mais eficaz que o fio dental para limpeza entre os dentes. Existe também a escova de tufo único, que costuma ser indicada para pacientes que têm doenças periodontais, como um complemento à escova comum.
Sinal de
alerta
Mesmo quem mantém uma disciplina exemplar de limpeza dentária corre o risco de deixar algum canto mal limpo, dando brecha para a infestação de bactérias. Segundo dentistas, é difícil conseguir deixar a boca completamente limpa - por isso, a importância da visita regular ao dentista. “É importante lembrar ainda que o fio dental não remove apenas a sujeira entre os dentes. Ele também retira as placas bacterianas”, diz Rodrigo Bueno de Moraes, da Associação Brasileira de Odontologia (ABO). Sangramentos durante a escovação ou o uso do fio dental são indícios de uma possível inflamação – e não de uma limpeza feita de maneira errada.
Fonte: Veja.com
Mesmo quem mantém uma disciplina exemplar de limpeza dentária corre o risco de deixar algum canto mal limpo, dando brecha para a infestação de bactérias. Segundo dentistas, é difícil conseguir deixar a boca completamente limpa - por isso, a importância da visita regular ao dentista. “É importante lembrar ainda que o fio dental não remove apenas a sujeira entre os dentes. Ele também retira as placas bacterianas”, diz Rodrigo Bueno de Moraes, da Associação Brasileira de Odontologia (ABO). Sangramentos durante a escovação ou o uso do fio dental são indícios de uma possível inflamação – e não de uma limpeza feita de maneira errada.
Fonte: Veja.com
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